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em defesa dos cineclubes


A volta do movimento cineclubista é uma alternativa para a hegemonia dos grandes centros de exibição.

em defesa dos cineclubes

Danyella Proença
Sex 22 de Apr, 2005 19:46

O caráter de integração social do cinema vem sendo sufocado há décadas. Em todo o país, pequenos locais de exibição são fechados e as salas multiplex se espalham. Com isso, mudam também os hábitos do espectador. Qual o ritual que envolve hoje a apreciação de um filme? Uma ida ao shopping mais próximo, mais de R$ 10,00 pagos pelo ingresso e, de preferência, um lanche na praça de alimentação ao lado. Não há tempo para a digestão.

A magia do cinema parece não ter mais tanto impacto sobre o espectador. As exibições perderam o aspecto coletivo que tanto as caracterizavam. Antigamente, os cinemas de bairro tinham grande prestígio. Além de serem locais onde famílias se reuniam para assistir aos filmes, eram também pólos de discussão. Nesses locais, fervilhavam idéias sobre política, arte, filosofia. Tudo pensado a partir das imagens projetadas na tela.

Não se trata de saudosismo. O fato é que hoje as discussões estão pulverizadas. Basta um olhar sobre Brasília para perceber que os locais onde ainda se discute cinema são escassos e elitistas. Algumas mostras realizadas aqui e ali, os debates que acompanham os festivais, algumas oficinas promovidas por cineastas da cidade. E estamos falando do Plano Piloto. Quais são as perspectivas para quem está fora dessa ilha?

Uma boa saída é a rearticulação do movimento cineclubista. No Brasil, existem hoje cerca de 70 clubes de cinema. Um número pequeno para o tamanho do país. Em Brasília, temos alguns projetos de exibição, como o da Casa Thomas Jefferson, que se auto-intitulam cineclubes. Mas, afinal, o que caracteriza um cineclube? Além do cultivo do caráter coletivo do cinema, os cineclubes têm como essência a paixão pela arte cinematográfica.

A programação é escolhida com um cuidado especial, primando pela diversidade e por filmes que fujam ao padrão estético dominante. Após as sessões, são realizados debates entre os participantes. Realizadores locais podem debater com o público. Filmes universitários e linguagens experimentais encontram espaço. Além disso, os cineclubes têm potencial para estimular novas produções, impulsionando iniciativas culturais.

No Distrito Federal, o movimento cineclubista começa a ganhar forças. O Projeto Cinema na Praça, desenvolvido pelo Centro de Estudos Cineclubistas de Brasília (Cecibra), consiste em realizar oficinas em cidades-satélites e no Plano Piloto para estimular a criação de cineclubes. Esse pode ser o primeiro passo para que pequenos núcleos tomem novo fôlego. E para que as projeções deixem rastros, incitando discussões, transformações e a valorização da produção nacional.

viaPCRC – Ponto de Cultura Rio Claro : Em defesa dos cineclubes.